Ações Ibéricas
Madrid: uma das cidades importantes de meu imaginário e experiências vividas. Sempre recorro, ainda hoje, às memórias e vivências que alimentaram meu espírito. Tudo começou com uma primeira visita rápida, nos anos 1990 que deixou marcada para sempre a visão de um detalhe de uma tela de Velázquez. Era apenas um pedaço do traje do personagem, nem me lembro qual, e sempre dizia: preciso voltar à Espanha para ver Velázquez! Durante quase dez anos isso não foi possível. A partir no início dos anos 2000 as oportunidades começaram a aparecer seguidamente. Foram diversas viagens mais ou menos longas, períodos em que não apenas revi Velázquez mas também Goya, Picasso e toda a pintura espanhola em seu vigor máximo. Além disso havia uma quantidade de acervos fantásticos, reunidos ao longo de séculos e distribuídos pelo país, que complementaram aquela primeira impressão marcando definitivamente meu olhar. Mas acida de tudo, as caminhadas pela cidade, descobrindo seus cantos, sua gente, sua cultura e me sentindo, de alguma maneira, parte daquele cenário.
Lygia Arcuri Eluf
Todas as vezes que voltava para casa deixava uma marca e o desejo de reencontrá-la na próxima vez que voltasse para lá. E assim surgiram as ações ibéricas. Los enterramientos foi a primeira. Uma espécie de happening de longa duração. Durante quatro meses caminhando pela cidade reuni pequenos objetos que encontrava nas calçadas, coisas que haviam sido descartadas ou perdidas e que causavam um estranhamento ou encantamento ao olhar. Estes objetos foram guardados em embalagens plásticas com fechos herméticos, classificados e finalmente enterrados nos lugares da cidade marcados, para mim, por alguma relação pessoal. Um grupo de amigos me acompanhou na caminhada final onde enterrei cada objeto e a documentação - fotografias e pequenos vídeos - foi feita por eles. Registrei cada enterramento em um caderno de anotações com instruções específicas para reencontrá-los quando voltasse à cidade. No hay salida encerrou a série de quatro ações, realizadas entre 2007 e 2016. Reuni fragmentos das fotografias que fazia cotidianamente e montei quatro mosaicos que foram reproduzidos em fotocópias e distribuídos, de maneira discretíssima, nos lugares onde passava: balcões de lojas, museus, bares e restaurantes, cinemas e praças públicas. Além das imagens a frase: no hay salida... tengo que volver.